Palácio da Pena: visita ao interior apenas com data e hora marcada, indicadas no seu bilhete; não existe tolerância de atraso. Saiba mais

D. Manuel I estava em Sintra quando soube da descoberta do Brasil e do caminho marítimo para a Índia?

31 jul. 2023

Muitas histórias têm Sintra como pano de fundo – algumas têm uma base verdadeira, outras não passam de fabulações que ganharam algum ‘estatuto’ ao longo de gerações. Em qualquer um dos cenários, a verdade é que muitas destas narrativas atraíram a atenção de quem vive, visita e estuda Sintra. Uma delas envolve D. Manuel I.

 

Contam os antigos que o rei ia muitas vezes para o topo da Serra de Sintra na esperança de avistar o regresso das caravelas portuguesas que tinham seguido para Oriente em 1497. Diziam também que D. Manuel I estava, de facto, em Sintra quando recebeu as duas grandes novidades: a descoberta do caminho marítimo para a Índia e do Brasil. Facto ou Mito?

 

Durante o século XV, os reis passavam longas temporadas nesta terra. A caça foi um dos principais atrativos para a deslocação da corte a Sintra, mas a afirmação de Lisboa como centro da burocratização do governo do reino teve também um papel fundamental nesta escolha. A corte começou a circunscrever as suas deslocações a um raio cada vez menor em torno da principal cidade portuguesa, podendo, assim, desfrutar dos bons ares da serra e das praias, sem ficar muito longe de Lisboa. É nesta altura que D. Manuel, que gostava de passar largas temporadas em Sintra, decide reformar o Paço, dando-lhe novos elementos decorativos, que ainda hoje são a sua marca distintiva (os revestimentos azulejares hispano-mouriscos, por exemplo), e acrescentando divisões imponentes (como a Sala dos Brasões). No final do seu reinado, o Paço de Sintra era um dos mais grandiosos palácios de Portugal.

 

D. Manuel I passava, de facto, muito tempo em Sintra. E os antigos tinham razão: o rei ia mesmo para o topo da serra avistar as caravelas: “viuvo o Rei, e retirado temporariamente no Paço de Cintra, subia muitas vezes aos altos rochedos da serra. Por uma janella da ermidinha de Nossa Senhora da Penha (aquella mesma junto da qual D. João II estivera onze dias acampado) mergulhava a vista no horizonte interrogando, investigando, procurando as velas que mandára ao Oriente…”, escreve o Conde de Sabugosa (1903) na obra “O Paço de Cintra”. Uma curiosidade: nesse local, D. Manuel mandou edificar o Real Mosteiro de Nossa Senhora da Pena. O terramoto de 1755 deixou o mosteiro praticamente em ruínas. Já no século XIX, D.Fernando II – rei-consorte casado com D. Maria II – adquire com a sua fortuna pessoal o mosteiro e toda a mata que o envolvia. E ali criou o Parque e o Palácio da Pena.

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Regressemos ao passado. Sabemos, então, que D. Manuel I subia até ao topo da Serra de Sintra na esperança de ver o regresso das caravelas. Mas será que estava no Paço de Sintra quando soube da chegada a casa de Vasco da Gama?

 

“Dizem-nos as ‘Lendas da India’ que estando D: Manoel em Cintra em 1499, uma hora passada da noite (assim se deve entender e não á uma hora da noite), e acabando de sentar-se á mesa para ceiar, chegou ao Paço Arthur Rodrigues, mercador, casado na Ilha Terceira, que tinha de seu um caravellão prestes a partir para o Algarve. Vendo entrar nos mares d’essa ilha as naus de Vasco da Gama levantou ferro sem saber de onde vinham. Passou por ellas antes que surgissem e perguntou-lhes de onde chegavam. Das naus responderam que da India. Seguiu immediatamente a sua derrota para Lisboa, e chegando a Cascaes metteu-se em uma barquinha para ir a terra, recommendando ao filho que não deixasse desembarcar ninguem. Aportou á praia de Cascaes, e por lhe terem dito ali que o Rei estava em Cintra, se dirigiu logo para lá a dar a nova”, escreve o Conde de Sabugosa, citando a obra do historiador Gaspar Correia.

 

No entanto, o autor refere que existem outras versões desta história, em que terá sido o próprio Nicolau Coelho, companheiro de Vasco da Gama, a chegar a dar a notícia ao Rei. Independentemente desses pormenores, “o que parece certo é que a nova foi recebida em Cintra, onde o Rei estava nessa epocha do anno”, refere o Conde de Sabugosa.

 

E a descoberta do Brasil? D. Manuel também teve conhecimento da boa nova em Sintra?

 

Os registos comprovam que o rei estava no Paço de Sintra quando soube desta grande descoberta. E referem até uma data específica: “(…) estando com a nova Rainha e a Côrte em Cintra, teve El-Rei a noticia da chegada a Lisboa, a 31 de julho [de 1501], das naus de Pedro Alvares Cabral «que de sua vinda foi muito alegre posto que com alguma tristeza por caso da gente que morrêra nas naus que sosobraram». Trazia-lhe esta frota a nova do descobrimento de um novo imperio. O Brasil estava descoberto – Portugal revelára ao mundo um novo continente”, lê-se na mesma obra do Conde de Sabugosa, que aqui se baseia na crónica de Damião de Góis sobre o rei D. Manuel I.

 

CONCLUSÃO: facto.