Recuperação da Horta dos Príncipes nos Jardins do Palácio Nacional de Queluz
A Horta dos Príncipes localiza-se no Bosquete do Palácio Nacional de Queluz, num dos talhões mais próximos do Jardim Pênsil, ocupando uma área de cerca de 1.620m². A sua configuração atual, embora integrada na malha formal do Bosquete, é uma construção tardia, datável do final do século XIX. Um dos recintos delimitados por sebes de buxo, conhecidos como “gabinetes”, acolhe este espaço que, segundo a tradição, teria servido para fins pedagógicos ligados à educação dos infantes da Casa Real. A disposição da horta reflete a organização ideal proposta por Jean de La Quintinie no tratado Le Parfait Jardinier de 1695 e corresponde à lógica compositiva do Bosquete representada na planta da biblioteca do Rio de Janeiro, de meados do século XVIII.
Com o passar do tempo, a Horta dos Príncipes sofreu diversas alterações, como a construção de floreiras revestidas a azulejos, a introdução de degraus e a plantação de árvores de grande porte nos antigos talhões de cultivo. Embora posteriores, estes elementos acabaram por marcar a identidade visual do espaço. O projeto de recuperação foi desenvolvido por uma equipa pluridisciplinar composta por historiadores, arquitetos paisagistas e conservadores-restauradores. O trabalho procurou recuperar o carácter lúdico, didático e representativo do lugar, respeitando a composição formal do Bosquete e a relação com os parterres, salvaguardando os elementos históricos existentes e contribuindo para a valorização e sustentabilidade do conjunto do Palácio e Jardins.
A intervenção prevê a execução de um pavimento em saibro de granito amarelo estabilizado com cal hidráulica, material historicamente utilizado nos jardins do palácio de Queluz no século XVIII. Inclui também a recuperação do canalete de irrigação, restituindo o traçado original e recorrendo a materiais tradicionais. Proceder-se-á ainda ao restauro dos elementos pétreos e azulejares das floreiras, com substituição de elementos dissonantes, preenchimento de lacunas de vidrado e a sua reintegração cromática, bem como à conservação da pintura mural presente numa das floreiras. Serão igualmente intervencionados elementos de cantaria, como o lago, o banco e o brasão decorativo.
Com esta intervenção, pretende-se restituir à Horta dos Príncipes a sua coerência histórica e formal, reforçando a autenticidade do Bosquete enquanto componente essencial do jardim barroco de Queluz, devolvendo-lhe simultaneamente a sua função contemplativa, educativa e representativa.