Parques de Sintra apresentou novas peças do acervo do Palácio Nacional de Sintra
13 nov. 2025
As coleções do Palácio Nacional de Sintra foram reforçadas com três novas peças que permitem uma melhor interpretação da sua história. Uma rara cruz-relicário produzida no Japão em finais do século XVI; uma escultura portuguesa do século XV/XVI representando as Santas Mães; e uma capa de secretária que pertenceu à rainha D. Maria Pia foram apresentadas esta quarta-feira, 12 de novembro, na Sala das Pegas, onde vão ficar, temporariamente, em exposição.
Na abertura da conferência, que contou a com a presença de Fernando Seara, presidente da Assembleia Municipal de Sintra, João Sousa Rego, presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra anunciou a nova política da empresa para a aquisição de acervo destinado aos palácios sob a sua gestão, que vai ser intensificada e assenta em três eixos: “numa visão transversal e transgeracional, enriquecer as coleções e valorizá-las para as gerações vindouras; resgatar a memória e restituir o sentido, comprando peças que pertenceram a quem habitou estes palácios; e reaproximar o património do público, com a incorporação de objetos que ajudem a contar a história destes monumentos e que melhorem a qualidade da visita com a disponibilização de novos conteúdos — um dos princípios orientadores da ação da Parques de Sintra.”
António Nunes Pereira, diretor dos Palácios geridos pela empresa, detalhou a política de incorporações do Palácio Nacional de Sintra, explicando que a mesma está intimamente ligada com a sua condição de palácio-museu: “evoca tempos passados, outros momentos históricos, personagens que aqui viveram e modos de vida completamente diferentes dos que temos atualmente.” O objetivo é integrar nas coleções deste palácio peças que tenham pertencido ao seu acervo no passado ou a quem o habitou; objetos que sejam testemunhos materiais da atividade diplomática de que foi palco, das cerimónias de corte, do exercício da religião, dos hábitos de lazer, alimentação e medicina da época; bem como documentos e iconografia, que auxiliem a investigação, a musealização e a museografia dos espaços. As três peças que agora passam a fazer parte das suas coleções estão em linha com este propósito.
Apresentada por Alexandra Curvelo, diretora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, a rara cruz-relicário Namban — apenas se conhecem oito exemplares em todo o mundo — permite integrar na narrativa do Palácio Nacional de Sintra um dos episódios diplomáticos mais importantes da sua história. A peça produzida no Japão para uso cristão, em finais do século XVI, é contemporânea da Embaixada Tenshō, a primeira embaixada do Japão enviada à Europa, que foi recebida no Paço de Sintra pelo vice-rei Alberto de Áustria, em 1584. Alexandra Curvelo destacou a relevância política e religiosa desta embaixada, “longamente preparada” pelos missionários da Companhia de Jesus em território japonês, e sublinhou que a cruz-relicário Namban é um testemunho da simbiose entre a missão cristã e a comunidade japonesa, do encontro de culturas plasmado no hibridismo que a caracteriza.
De seguida, Maria João Vilhena, conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga, abordou aspetos relacionados com a escultura das Santas Mães ou Sant’Ana Tríplice, de produção nacional, datada do século XV/XVI. A especialista felicitou a Parques de Sintra pela aquisição desta “pequena jóia”, que não só evoca o culto mariano e as práticas religiosas de realeza e da nobreza da época, como constitui uma obra de arte “bela”, de grande “harmonia plástica”, que acrescenta valor patrimonial à coleção do Palácio Nacional de Sintra. Maria João Vilhena enfatizou a importância desta peça no contexto feminino, tão relevante num palácio que foi centro de um território gerido pelas Rainhas de Portugal, explicando que, a representação de Santa Ana, da sua filha Virgem Maria e de Jesus Cristo, traduz “três gerações da divindade que passam através de uma linhagem feminina”.
A última intervenção coube a Teresa Maranhas, conservadora do Palácio Nacional da Ajuda, que partilhou pormenores relacionados com a capa de secretária com monograma em prata que pertenceu a D. Maria Pia e que vem reforçar o acervo do Palácio Nacional de Sintra no que se refere aos objetos pessoais da última monarca a habitá-lo. Teresa Maranhas salientou que se trata de uma peça requintada, de finais do século XIX, que une as artes da marroquinaria e da ourivesaria, proveniente de Paris, da Maison Maquet, fornecedora de artigos de papelaria de luxo às casas reais e aristocráticas. Tendo estudado as diversas faturas, datadas de 1888, onde se inclui esta capa de secretária, concluiu que D. Maria Pia comprou uma grande quantidade de produtos a esta casa da moda, que se adequava ao seu gosto sofisticado.
São três novas aquisições que valorizam o acervo do Palácio Nacional de Sintra, tanto a nível histórico, como artístico, e permitem contextualizar vivências e episódios que ali tiveram lugar ao longos dos séculos, num importante contributo para a qualidade da visita ao monumento.