Parques de Sintra restaura Gabinete Árabe do Palácio Nacional da Pena
20 ago. 2025
No Palácio Nacional da Pena, a Parques de Sintra tem em curso trabalhos de restauro do Gabinete Árabe, que abrangem os revestimentos em estuque e as caixilharias em madeira e metal. O objetivo da intervenção é recuperar os elementos danificados, tanto pelo desgaste provocado pela passagem do tempo, como pelas condições meteorológicas agrestes, às quais o Palácio está especialmente exposto devido à sua localização no topo da Serra de Sintra.
Ao nível do revestimento, os trabalhos consistem na reposição das placas de estuque degradadas e na sua reintegração cromática — um processo minucioso, dado o estado de conservação da policromia, associado à particularidade do estuque relevado.
Num primeiro momento, foi realizado um estudo técnico preliminar centrado na caracterização material e na avaliação do estado de conservação, que permitiu estabelecer um programa de intervenção de conservação e restauro fundamentado. Assim, através da campanha de exames e análises efetuadas, foi possível verificar que as cores originalmente aplicadas nos revestimentos eram o azul (fundos) e o verde (elementos vegetalistas). Estes testes permitiram, ainda, aferir que as cores originais correspondiam a tintas à base de óleo, ao invés das tintas de base mineral utilizadas nas campanhas de restauro do século XX. Estas conclusões permitiram definir o tipo de tinta e o esquema cromático a aplicar na intervenção, promovendo tanto a devolução do esquema de cor primitivo, como a utilização de materiais compatíveis e similares aos utilizados na decoração original do espaço.
Atendendo ao seu estado, os trabalhos de conservação e restauro nos estuques envolvem não apenas o tratamento e reintegração dos revestimentos existentes, mas também a reparação de zonas de lacuna e a substituição de placas irrecuperáveis, o que implicou a execução de moldes em silicone e a produção de novas placas para aplicação na intervenção.
O tratamento das caixilharias exigiu, no caso da janela metálica interior, a remoção e a reaplicação do elemento, para tratamento e estabilização da corrosão. Neste âmbito, foi necessário proceder à sua estabilização estrutural, recorrendo a soldaduras, quando necessário, assim como ao restabelecimento do sistema de fixação à alvenaria, que estava debilitado devido à corrosão dos elementos de fixação originais. As caixilharias de madeira — porta do espaço para o Terraço da Rainha e janela exterior — foram tratadas estrutural e superficialmente para repor a sua plena funcionalidade e estética.
O Gabinete Árabe localiza-se junto ao Terraço da Rainha, no terceiro pavimento do torreão adossado ao canto sudeste do antigo núcleo do mosteiro, a partir do qual o Palácio da Pena foi edificado, no século XIX, por iniciativa de D. Fernando II. No plano arquitetónico, o principal atrativo desta sala é o seu invulgar revestimento de placas de estuque relevado, com motivos arabizantes, que apresentavam, originalmente, um esquema decorativo pela aplicação de cor, nomeadamente em fundos e elementos de cariz vegetalista.
Muito embora existam no Palácio várias salas cuja decoração fernandina, nomeadamente em pintura e estuque, tem uma relação concreta com o árabe ou mourisco, esta é a única divisão que, desde a sua construção, remete diretamente para o universo dos exotismos através do nome. O espaço, com acesso apenas pelo terraço, é comparável aos pavilhões de jardim destinados ao refúgio e à contemplação — as primeiras estruturas a ser objeto das experiências revivalistas e exotizantes no século XVIII.
As pequenas dimensões do Gabinete Árabe e a riqueza do seu estuque ornamental contribuem para torná-lo numa espécie de pequena caixa de jóias, que permite momentos de isolamento, reconexão e evasão, em linha com as ambições ou anseios românticos.
Prevê-se que as ações de restauro nesta divisão do Palácio Nacional da Pena se prolonguem até ao final de setembro deste ano.


