Projeto pioneiro recupera Canal dos Azulejos do Palácio Nacional de Queluz
07 nov. 2025
A Parques de Sintra vai devolver o esplendor original ao Canal dos Azulejos, elemento icónico dos Jardins do Palácio Nacional de Queluz. O espaço vai ser restaurado e voltará a ter o espelho de água que o caracterizava no século XVIII, aproximando os visitantes da atmosfera e das vivências da época em que a Família Real e a corte se passeavam de barco sobre as águas tranquilas (represadas por um sistema de comportas), apreciando as paisagens fantasiosas dos grandes painéis de azulejos, concebidas a partir de gravuras, representando portos de mar e paisagens variadas.
João Sousa Rego, presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra, sublinha: “o Canal dos Azulejos de Queluz é um testemunho vivo da arte, da engenharia e do património cultural português que importa preservar. O projeto de recuperação que estamos a levar a cabo tem uma dupla vertente: por um lado vai assegurar a salvaguarda deste notável conjunto histórico; por outro, vai recriar o ambiente do lago original e devolvê-lo à fruição dos visitantes, que, assim, poderão reviver as experiências da Família Real e da corte neste espaço.”
De acordo com João Sousa Rego, “trata-se de uma intervenção que conjuga na perfeição os três princípios orientadores que guiam a ação da Parques de Sintra, pois valoriza o património e promove a qualidade da visita, tornando-a mais autêntica; aprofunda a ligação à comunidade científica, ao assentar numa parceria com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC); e testa soluções inovadoras e sustentáveis que preservam o património construído para as próximas gerações. Num esforço pioneiro em Portugal, a Parques de Sintra decidiu realizar intervenções-piloto no próprio local, de modo a testar e avaliar os materiais e técnicas mais adequados antes da obra final. Estes trabalhos contam com o apoio científico do LNEC e seguem as melhores práticas nacionais e europeias de conservação e restauro de azulejos em contexto exterior.”
Intervenção multidisciplinar para recriar um cenário de sonho
O projeto de recuperação do Canal dos Azulejos é uma iniciativa complexa e multidisciplinar que envolve várias fases e especialidades. Atualmente, decorre a etapa de testes e implementação de metodologias de conservação e restauro dos revestimentos azulejares, em colaboração com o LNEC, no âmbito de um protocolo estabelecido com a Parques de Sintra. É um passo essencial no processo de seleção das soluções que garantem a melhor intervenção possível, com vista à recuperação, conservação e valorização deste património cultural e artístico.
Já foram concluídas as análises que permitiram caracterizar os materiais a utilizar e, durante o mês de novembro, iniciar-se-á a aplicação das metodologias definidas, com o objetivo de devolver a grandiosidade e o brilho originais dos painéis de azulejos.
A fase final da intervenção consistirá na reposição do espelho de água que antigamente se estendia ao longo de todo o Canal, com a instalação de um sistema rebatível sob a ponte das comportas, possibilitando a formação de um lago temporário durante o verão. Este elemento será desativado na época húmida, garantindo a preservação do equilíbrio natural e do correto escoamento das águas.
O Canal dos Azulejos, onde corre a Ribeira do Jamor, tem uma extensão de 120 metros e atravessa os jardins de Queluz, de norte para sul, constituindo a nota de maior originalidade no contexto do traçado dos jardins desta época. As paredes laterais interiores do canal estão decoradas com cerca de cinquenta mil azulejos, não incluindo os do bloco central. Em linha com o caráter lúdico do espaço, integrou no passado a Casa do Lago, também chamada Casa Chinesa ou Casa da Música.
Neste pequeno pavilhão tocavam, nas tardes de verão, os músicos de câmara da Rainha, quando o canal estava cheio e a Família Real e seus convidados ali passeavam em pequenos barcos — memórias de um cenário de sonho, que este projeto volta a recuperar, trazendo o encanto do passado a todos os que visitam os Jardins Históricos do Palácio Nacional de Queluz.