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Charca Naturalizada do Parque da Pena

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No século XIX, existiu nesta zona uma área de exploração de inertes (saibro e pedra) aplicados nas obras de construção do parque e palácio da Pena. Esta área foi também utilizada como vazadouro de resíduos de manutenção do Parque da Pena na segunda metade do século XX.

 

Em 2011, no âmbito da intervenção de restauro do jardim na envolvente do Chalet da Condessa d’Edla, o local foi limpo e procedeu-se ao ensaio do consumo necessário para a rega destes jardins, através da instalação de um depósito de campanha com 500m3. A reserva de água mostrou-se adequada e suficiente ao longo de dois verões, mas, a 17 de outubro de 2015, o depósito foi irreversivelmente destruído pela queda de um carvalho de grandes dimensões, demonstrando que a reserva de água não potável para rega dos jardins através de uma solução provisória constitui uma vulnerabilidade a ultrapassar.

 

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A Parques de Sintra iniciou, então, um projeto de conversão deste espaço num espelho de água com 1006m2 e 2m de profundidade, a charca naturalizada, que cumpre simultaneamente três objetivos: a reserva de 732m3 de água para combate a incêndios florestais na serra de Sintra, a reserva de 500m3 água para rega dos jardins e a conversão de uma área degradada num habitat naturalizado. Deste modo, aumenta-se para 2600m3 a capacidade de armazenamento de água não potável proveniente de minas.

 

A forma do espelho da água e a linha exterior da margem mais natural responde à necessidade de renaturalização desta zona de forma orgânica, com margens onduladas. A charca inclui diferentes zonas de depuração de água que permitem, em simultâneo, a observação da vida aquática. Esta estrutura proporciona o tratamento biológico da água exclusivamente por processos biológicos e mecânicos, tal como ocorre na natureza, utilizando serviços ecossistémicos, sendo uma solução bio-baseada (nature based solution). 

 

O sistema de tratamento de água funciona, assim, à base de aquacultura, biofiltração por zooplâncton e oxigenação da água por espécies vegetais submersas e vegetação nas margens. As margens com plantas funcionam como filtro passivo de plantas e o conceito de plantação tem em consideração a composição química e o teor dos nutrientes na água. As plantas selecionadas são espécies autóctones de distribuição regional, de acordo com o Decreto-Lei 92/2019, de 10 de julho.

 

Devido à modelação das margens em vários patamares, a charca apresenta níveis oscilantes do nível de água, o que permite deixar que este baixe antes da época chuvosa do inverno para receber água da chuva e desligar (temporariamente) a charca do sistema de enchimento proveniente das minas. A captação da água - seja para fins de rega, seja para a ligação ao hidrante de abastecimento de viaturas de combate a incêndios - é feita em poços de captação submersos conectados à rede de distribuição de água não potável do Parque da Pena, por meio ligações capilares com a charca, ou seja, sem recorrer a sistemas de bombagem e funcionando apenas com a força da gravidade.

 

A intervenção que se apresenta responde, assim, aos princípios orientadores da missão da Parques de Sintra de conservação da natureza e promoção de habitats, neste caso os sistemas húmidos. O projeto inclui, ainda, a construção de uma plataforma em deck, que permite observar as 2947 plantas de 35 espécies botânicas aquáticas e 1500 plantas terrestres autóctones.

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Associações fitossociológicas e espécies presentes

Espécies submersas e de folha flutuante

 

Potamogetonetalia:

  • Ceratophyllum demersum (30 exemplares)
  • Potamogeton schweinfurthii (500 exemplares)

 

Potamogetonion (pectinati)

  • Potamogeton gramineus (50 exemplares)
  • Potamogeton pectinatus (100 exemplares)

 

Nymphaeion (albae)

  • Nymphaea alba (6exemplares)
  • Potamogeton natans (54 exemplares)

 

Ranunculion fluitantis

  • Potamogeton nodosus (200 exemplares)

 

Littorelletalia

  • Myriophyllum alterniflorum (200 exemplares)

 

Espécies ripícolas

 

Phragmitetea

  • Alisma plantago-aquatica (70 exemplares)

 

Phragmitetalia

  • Carex pseudocyperus (50 exemplares)
  • Mentha aquatica (50 exemplares)
  • Iris pseudacorus (150 exemplares)
  • Eleocharis palustris (70 exemplares)
  • Lythrum salicaria (70 exemplares)

 

Phragmition

  • Schoenoplectus lacustris (170 exemplares)
  • Phragmites australis (500 exemplares)
  • Butomus umbellatus (30 exemplares)

 

Bolboschoenion maritimi

  • Samolus valerandi (40 exemplares)
  • Schoenoplectus kueckenthalianus (150 exemplares)

 

Magnocaricion

  • Carex hispida (50 exemplares)
  • Cyperus longus (55 exemplares)
  • Carex paniculata (50 exemplares)
  • Gratiola linifolia (50 exemplares)
  • Myosotis laxa (30 exemplares)

 

Carex elata-grupo

  • Carex otrubae (elodes) (80 exemplares)

 

Bidention

  • Veronica anagallis-aquatica (30 exemplares)

 

Calystegion sepium

  • Epilobium parviflorum (40 exemplares)
  • Epilobium hirsutum (40 exemplares)

 

Agropyro-Rumicion

  • Juncus inflexus (70 exemplares)

 

Filipendulion

  • Lysimachia vulgaris (30 exemplares)

 

Calthion

  • Juncus subnodulosus (33 exemplares)

 

Trifolio fragiferi-Cynodontion

  • Teucrium scordium (30 exemplares)

 

Alnion glutinosae

  • Osmunda regalis (25 exemplares)
  • Thelypteris palustris (50 exemplares)

 

Alno-Ulmion

  • Carex pendula (50 exemplares)

 

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Contexto do investimento

Pretende-se com este tipo de intervenção e investimento responder à necessidade de tornar os parques e jardins históricos da Parques de Sintra mais resilientes num contexto de alterações climáticas, estando em curso a execução faseada de diversos projetos de recuperação de sistema de água tradicionais das diversas propriedades, que visam, não só, repor água não potável de forma eficiente em todos os pontos de armazenamento de água existentes, como a recuperação de todos os elementos de água decorativos de composição paisagista destes jardins.

 

Nos últimos três anos, foi feito um investimento total 516.720,90€ (incluindo o valor da charca) em intervenções de salvaguarda, gestão e uso eficiente da água não potável produzida na serra de Sintra.

 

Este valor distribui-se da seguinte forma:

  • 2022 - 106.007,50€: inclui a recuperação do Lago de Cascais (700m3 de água no Parque da Pena) e a primeira fase de intervenção no sistema de águas da Tapada de Monserrate, permitindo extinguir o consumo de água potável para a rega dos jardins de Monserrate.
  • 2023 - 358.913,40€: inclui a execução da Charca Naturalizada do Parque da Pena, a recuperação do Tanque dos Frades (que permite uma reserva de água de 200m3), a segunda fase de recuperação do sistema de águas da Tapada de Monserrate e a substituição de diversas portas de minas com vista à salvaguarda da fauna residente no interior destas galerias.
  • 2024 - 51.800,00€: serviços de manutenção e prospeção de sistemas águas nas diversas propriedades da serra de Sintra.

 

Ainda em 2024, avançará uma avaliação global do estado das águas não potáveis da serra, através da definição de uma estratégia para a Gestão de Recursos Hídricos de todas as propriedades geridas pela Parques de Sintra inseridas na Paisagem Cultural de Sintra (cerca de 946 hectares). Tal estudo estratégico deverá alargar-se numa fase posterior também a áreas enquadradas na zona tampão da Paisagem Cultural de Sintra (cerca de 3640 hectares).

Sobre o projeto

Início:

Setembro 2023

Duração prevista:

6 meses

Investimento:

127.606,70€

Parque da Pena